terça-feira, 15 de julho de 2008

Livro do Mês: Cacos para um Vitral (Adélia Prado)

(Empréstimo de Simone Costa, amiga querida)

Trechos
p. 25 - "Maria lhe pedira: quero sair daqui e trabalhar num escritório em Bambuí. Por que Bambuí, filha? Quero saber o que sentem as meninas que não tem as coisas como eu tenho. As pernas de Glória amoleceram. Seria menos duro se a menina dissesse: mamãe, vou me casar amanhã. Não soube dizer do obscuro desejo do seu coração, mas Glória tinha certeza, vou para um escritório em Bambuí, sem que a menina soubesse em sua inocência, significava: pai, não quero sua casa, sua veste, sua comida, seu amor equivocado."

p. 26 - "O social é uma descoberta penosa, a consciência do coletivo, não é, Gabriel? Você não acha? Não pensa assim também, hein, Gabriel? hein? hein? Vê se fala sem brigar comigo, ele respondeu. Fala sem raiva, desfranze essa testa. Seu pessoal é muito aflito, ah, assim tira o gosto de viver."

p. 38 - "Tomava banho 'sabendo', 'sabia' que namorava, assistia-se existindo, exaurida, desejando ser expulsa de si para gozar a existência como coisa, bicho e algumas pessoas parecem gozá-la."

p. 65 - "No caderno de Glória: um romance é feito das sobras. A poesia é o núcleo. Mas é preciso paciência com os retalhos, com os cacos. Pessoas hábeis fazem com eles cestas, enfeites, vitrais, que por sua vez configuram novos núcleos."

p. 67. - " Quando recuperava a alegria, Glória ficava íntima. E descobria: desde toda dua vida, o medo, o sentimento de culpa não a preservavam, antes a endureciam. Mas estar alegra era possuir intimidade, seu corpo não era mais feito de partes, mas uma só coisa harmoniosa, ajustada, digna de amor e amar e fazer os outros felizes."

p. 79 - "Visto desta janela, o ser humano não tem culpa de nada."

Tem sangue que pulsa para além do corpo. Assim é Adélia, para mim.

Fernanda Yuri
Dia de antigo perceber

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