segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Faringites do meu calendário


Tenho desejado (e muito) me livrar do excessos. Tirar o que está demais, desgastado e repetitivo em demasia. Quando acredito ser possível um último empurrãozinho, é faringite na certa. Não quero sobrepor os ritmos naturais, mas quando é que aprenderei? Mais do que não sentir falta do que não temos, é boa a sensação de largar os kilos de ilusão que carregamos incessantemente. Cansei de justificativas, pedirei férias das respostas e quem sabe até das perguntas. Me importa mais aquilo que é - o céu, o sol, a grama verdinha, o sorriso de minha mãe, meu coração batendo. E, também, é claro, minhas vitaminas para que, em breve, minha garganta esteja novinha.

Fernanda Yuri
Vésperas de dias de ar


domingo, 6 de dezembro de 2009

Interesses

Querendo o ritmo das pausas.

É o que me interessa
Lenine

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.

Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.


Fernanda Yuri
Dia de Vata

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Fim de tarde em algum lugar.

Fernanda Yuri
Dia vintesete

domingo, 13 de setembro de 2009

Soprando cartas

Eu poderia viver de sopros e cartas. No ar, por ai.

Fernanda Yuri
Dia e noite de Dionísio

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Plie, jettes


Das tantas faltas que sinto, dançar ainda se faz em sonhos. Quando no ar ficam suspensos, além das sapatilhas, o som do piano, qualquer intenção, descobrimos o além e por detrás de nós. Infinitos plies.


Fernanda
Dia de releves para os ouvidos

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Pedras nos bolsos


De mansinho, uma nova versão da gente se espreguiça fazendo as antigas couraças de sempre racharem. Para brotar o novo, ser a mesma de outra forma. Quando se vê já não se recorda mais. Não atrapalham mais os ruídos e os estranhos barulhos da incompreensão. O mundo para aqueles que se dispõe se desnuda como um belo e delicado corpo nu. Atraente por suas formas, raro pelo seu equilíbrio. Talvez, aprenderemos a entregar aquilo que não sabemos deixando de carregar todo o passado para poder viver com exatidão o que se é no momento da existência. Cada um dói suas próprias dores porque é assim que tem que ser. Mas temos a opção. E é assim que acontece, acabamos por escolher. Sempre.

Fernanda Yuri
Dia de clarão de dentro

domingo, 2 de agosto de 2009

Turbilhão

Naquelas curvas perigosas da vida.
No meio de tantos questionamentos.
Diante de tanta insegurança.
As pessoas surpreendem.
Para o bem e para o mal.
A mão que sempre afagou em segundos vira egoísta.
Aquela inimiga para a surpresa de todos, hoje, é pacífica.
Desafetos conseguem apenas ampliar ainda mais o abismo existente.
Os amigos, aqueles velhos de guerra, estão mais uma vez com os braços abertos, mesmo antes de conhecerem a dimensão do fato.
Ah novas pessoas aparecem e estas conhecem com riqueza de detalhes o caminho que nem é delas e diante disso são capazes de ajudar, com base em um pedido e apenas porque não gostam de dizer não.
Cibele Quirino

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O que seria de mim não fossem as ausências?

Fernanda Yuri

Força das águas

Nada acontece por acaso e acho que eu estava precisando de um bom banho de chuva para esfriar a cabeça.
Definitivamente não sou feita de açúcar e assumo que ontem meus nervos estavam à flor da pele, talvez por isso eu precisasse de toda a água que encontrei pelo caminho.
Mesmo sem conseguir recordar sequer a temperatura da água, após um dia daqueles, cheguei em casa serena e com uma sensação de leveza; acho que foi a chuva.
Cibele Quirino

domingo, 26 de julho de 2009

Encontros se dão pela raridade das sensibilidades.

Dia de partida
Okuribito

Fernanda Yuri

sábado, 25 de julho de 2009

Hoje, consegui ter um pouco de brisa na minha vida...
Diante dos últimos fatos para alguns talvez soe como egoísmo, mas eu estava como saudade da delicadeza implícita na simplicidade do dia-a-dia
Cibele Quirino

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Girando quebra-cabeças

Vivo a fazer girar tudo o que é em mim curioso, sentindo um prazer contínuo em um quebra-cabeça inacabado.

Dia de Dimenstein e Rubem Alves
Fernanda Yuri

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tiros n'água

Meus enganos são tiros nos infinitos vazios nos vãos daquilo que me sustenta.

Dia de carona em morros verdes
Fernanda Yuri

domingo, 12 de julho de 2009

Importâncias

Eu queria me importar. Mas...

Brejeirice pós-moderna

Vivo nesta vida em que tantas outras vidas se fazem em mim. Confesso: tenho esse jeito de gente brejeira metida a alguma sofisticação pós-moderna.

Fernanda Yuri
Dia de erva-cidreira

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Pietro

Eu poderia dizer que seus olhos são da cor do céu, da cor de um rio ou que são como o mar, mas prefiro dizer que são como denin
Quanto à sua pele ainda não decidi se prefiro compará-la à porcelana ou ao biscuit
Suas risadas e sorrisos não são apenas doces como as das crianças, para mim existe algo de surreal como nos anjos.

Cibele Quirino

segunda-feira, 6 de julho de 2009

On vacation

Quando o efêmero e a gastrite se fizeram irmãos?

Fernanda Yuri
Dia de visitas

terça-feira, 30 de junho de 2009

Eu-tato-contato

Meus poros sentem saudade e sabem o que é felicidade. Registros vividos, sentidos, eriçados na pele. Eu toco e sou tocada numa alternância de entrega e medo. A vida dos sentimentos circula incessantemente pelos mapas do corpo, nunca se desgasta ou desaparece. Meus amores, espantos, sonhos, todos em alguma parte filtrada ou explodida pelo eu-tato-contato. Memórias de pele. Minha história pelos poros - o quanto amei, surtei, ri, acreditei, tudo impregnado como tatuagens involuntárias. Tatuagens e porque não algumas cicatrizes.Corpos entrelaçados compartilham presença e nus se esbaldam de não-limites. Atentos em movimento exploram suas criatividades reorganizando e adquirindo novas percepções e possibilidades. Corpos não tocados adoecem, limitam-se aos contornos de dentro e tornam-se surdos a alma que grita desejosa por compartilhar calor. Não sei mais não pousar em meu interior, na transparência que minha pele me permite.

Fernanda Yuri
Dia com tato

sábado, 6 de junho de 2009

Depois de tudo

E agora me resta Clarice.



Fernanda Yuri
Dia que já é noite

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Suspiro

Queria sair daquela cadeira e respirar algo que não fosse o ar compartilhado com aquelas três ou quatro dezenas de pessoas que dividiam aquele salão. Olhar e enxergar tudo, menos aquele objeto. Retirar, aos poucos, as correntes que a mantinham ali. Talvez, palavras que não passavam de idealismo juvenil, e que logo iam embora. Outras, a mudança. Encontrava-a nos sonhos, a matéria do inconsciente.

Eny Caldo

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Pedido de descanso


Por ora, a velocidade de mundo poderia mudar, tudo em câmera lenta, sem pressa, sem exatidão, onde a vida é o desenrolar da tranquilidade. Nada a cumprir, desatar, arrumar. Um momento em que é tudo mansidão. Cada um na sua, no respeito e cumplicidade do outro. Em Ruanda, mortes a facadas. Pelo ar, gripe suína. Muita gente apreensiva. Medo do quê? Sofrer. Pelo quê? Pela vida que se tem, por aquilo que se perde. Estranho é mesmo reparar que somos nós que nos embaraçamos. Tiramos de um para dar a outro e esse outro pode ser aquele mesmo que tira. Abundância e escassez. Como é que pode? É nesta hora que as coisas pequeninas ganham força. Coisas da suavidade. Na lentidão o ego se perde, afrouxa na brisa nova que sopra.

Fernanda Yuri
Dia de banquinho

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Esperando

Enquanto isso, vou vivendo.

Fernanda Yuri
Dia depois da Páscoa

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Longe e perto


Aqui parece que não é preciso pensamentos. Faz sol da tarde.

Fernanda Yuri
Maringa - PR

Mansidão de Clarice


Jamais poderia descrever Clarice. É assim que é. Particular, essencial. Não havia como não registrar aqui suas palavras em um tempo em que não me sinto chuva.

Tanta mansidão

Pois a hora escura, talvez mais escura, em pleno dia, precedeu essa coisa que não quero sequer tentar definir. Em pleno dia era noite, e essa coisa que não quero ainda definir é uma luz tranqüila dentro de mim, e a ela chamariam de alegria, alegria mansa. Estou um pouco desnorteada como se um coração me tivesse tirado, e em lugar dele estivesse agora a súbita ausência, uma ausência quase palpável do que era antes um órgão banhado de escuridão e dor. Não estou sentindo nada. Mas é o contrário de um torpor. É um modo mais leve e silencioso de existir.
Mas estou também inquieta. Eu estava organizada para me consolar da angústia e da dor. Mas como é que me arrumo com essa simples e tranqüila alegria. É que não estou habituada a não precisar de meu próprio consolo. A palavra consolo aconteceu sem eu sentir, e eu não notei, e quando fui procurá-la, ela já se havia transformado em carne e espírito, já não existia mais como pensamento.
Vou então à janela, está chovendo muito. Por hábito estou procurando na chuva o que em outro momento me serviria de consolo. Mas não tenho dor a consolar.
Ah, seu sei. Estou procurando na chuva uma alegria tão grande que se torne aguda, e que me ponha em contato com a agudez que se pareça agudez da dor. Mas é inútil a procura. Estou à janela e só acontece isso: vejo com olhos benéficos a chuva, e a chuva me vê de acordo comigo. Estamos ocupadas ambas em fluir. Quanto durará esse meu estado? Percebo que, com esta pergunta, estou apalpando meu pulso para sentir onde estará o latejar dolorido de antes. E vejo que não há o latejar da dor.
Apenas isso: chove e estou vendo a chuva. Que simplicidade. Nunca pensei que o mundo e eu chegássemos a esse ponto de trigo. A chuva cai não porque preciso dela. Mas nós estamos tão juntas como água da chuva está ligada à chuva. E eu não estou agradecendo nada. Não tivesse eu, logo depois de nascer, tomado involuntária e forçadamente o caminho que tomei – e teria sido sempre o que realmente estou sendo: uma camponesa que está num campo que chove. Nem sequer agradecendo ao Deus ou à natureza. A chuva também não agradece nada. Não sou uma coisa que agradece ter se transformado em outra. Sou uma mulher, sou uma pessoa, sou uma atenção, sou um corpo olhando pela janela. Assim como a chuva não é grata por não ser pedra. Ela é uma chuva. Talvez seja isso ao que se poderia chamar se estar vivo. Não mais que isto, mas isto: vivo. E apenas vivo de uma alegria mansa.

Clarice Lispector

quarta-feira, 25 de março de 2009

Corpo vivo


Somos o que sentimos? E sentimos? Por onde, por quais canais? O corpo sente por meio de minúsculas estruturas e se expressa por grandes sistemas e complexidade. O movimento. Cada intenção e absorção de um gesto. Uma grande descoberta se espreita pelos caminhos do corpo que vive tonificado, denso ou esquecido. Fico a pensar sobre a predominância do que chamamos razão ou aquilo que nos move, nos faz agir, equaliza e diferencia nossas ações, e, no entanto, é o corpo que nos convida à despedida. Morremos o corpo. Adoecemos nosso próprio corpo ao submetê-lo à forma, um cabide de apetrechos. E tanto fazemos por esse corpo-forma: trabalhamos, nos exercitamos, nos vestimos, nos frustramos ou envaidecemos por manter uma aparência. É do corpo que podemos extrair alguma presença na vida. Corpos soltos, desconexos, adormecidos perambulam como almas perdidas, que vagam pelos infinitos cantos do mundo, insatisfeitas. É possível abrir uma percepção para sentir que se existe. Corpo sagrado.

Fernanda Yuri
Dia de Gerda Alexander

quarta-feira, 18 de março de 2009

De tudo um pouco

Estranho seria se estivesse pronta como pão na prateleira, como se não fossem necessários os ingredientes, sovar a massa, aguardar a fermentação, assar o pão. O que seria de mim, não fosse o processo? Retomadas, atropelos, tentativas e esconderijos. O que se manifesta na particularidade de cada um? Os astros revelam um vulcão de intensidades tamanhas que é preciso expressão.

Fernanda Yuri
Dia de gêmeos em libra

segunda-feira, 16 de março de 2009

Obrigada

Ah, Fê, obrigada por mais estas palavras de carinho, como elas são especiais.
Também só quero o melhor para você; as risadas das crianças, a força dos jovens e a paciência da maturidade, além de carinho, conforto e aconchego. Bjo, Cibele

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Dia 16

Hoje foi dia engraçado. Aniversário de Cibele, notícias de Eny que acabou de chegar de viagem. Delas, eu só quero o conforto na vida e no caminhar. É um bem-querer danado de bom que elas me permitem sentir. Muito obrigada, amigas queridas.

Fernanda Yuri

Por tão pouco


Não ter palavras. Não ter estórias. Não ter mais nem menos. Às vezes, fico a pensar o que seria o mundo se não houvesse a memória. Se tivessemos disposição para o esquecimento. Haveria o perdão? A desonra ou ingratidão?

Fernanda Yuri
Dia de tão muito

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Confusão

Devo ser de outro planeta
Ou de outro tempo
Daquele que já foi ou do que ainda não chegou
Será que perdi a hora ou cheguei antes?
Eu não sei
Só sei que assim não dá
Já que estou por aqui
Ainda não consigo mudar o mundo
Mas posso fazer da minha vida algo mais próximo do meu ideal.

Cibele Quirino

sábado, 17 de janeiro de 2009

Acúmulos, sustos e esparadrapos

Dia e noite, a mesma coisa. O sol levanta e se deita. A gente insiste na disparidade, no “meu”, no “teu”, e às vezes, arriscamos um “nosso”, daqueles “meu nosso” que lhe empresto enquanto me convém. Prefiro a descoberta quando a rigidez se desfaz. Porque tudo acontece. Somos aquilo que prossegue. Somos a impermanência. Como é possível segurar o ar que em tudo está e todas as formas possui? A vida é meio ar. Está presente, é tudo e de todos. É preciso esquecer do que se quer para alcançar além da intenção, para ouvir o silêncio. Somos mais do que acúmulos de desejos, medos, felicidades e frustrações. Somos a história das escolhas. Tudo criado a partir delas. Quais as sementes que nutrimos em nossos corações? De tudo um pouco faz o terreno fértil.

Fernanda Yuri
Dia de amontoados

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

sem título

Às vezes preciso virar fumaça,
Quando as idéias concretas nem sempre são bem-vindas
E a nostalgia intrínseca no meu corpo parece sufocar
Nesses momentos chegar perto da neblina é a melhor solução,
Assim como as nuvens são mutáveis a cada segundo, o tempo também passa e cada vez mais rápido
E nesse momento já estarei como o amanhecer, com novos pensamentos, olhando para o futuro e com o passado jamais esquecido, porém bem guardado!

Cibele Quirino