sexta-feira, 16 de maio de 2008

Girassol do Jardim

Ela já prendia a minha atenção desde quando eu nem percebia que existia. Dessa época, o que tenho de memória se refere a ela naquele barrigão imenso encostado no tanque enquanto eu afogava as bonecas nos baldes coloridos do quintal. Eu já sentia a sua presença. Fui acordada e me fizeram percorrer cobertores para encontrá-la. No hospital tudo era branquinho, muitos panos e lã branca, era ela pela primeira vez. O som delicioso de risada de criança é som vivo de infância minha.

Ela foi minha primeira constatação de vida. Olhava curiosa e a investigativa. O que via e o que sentia? Quem queria? Ela. Ela que adormecia nos meus braços quando tinhamos quase o mesmo tamanho. Ela que grudava na minha blusa para se esconder de qualquer perigo. Ela que trincou o dedo, quebrou o dente e pegou piolho. Ela que me acordava no meio do sono com a cama molhada, que ajoelhava ao chão para conferir se estava dormindo e abraçava gostoso deixando tudo quentinho e seguro.

De cabelinho liso chanel e carinha de boneca de porcelana ela seguia e ria. Ria livre, solta e desprendida. Me perguntava com o que tanto se assustava mas adorava quando ela corria para mim. Medo de piscina funda, sol do meio-dia, pimenta brava, assombração. Ela foi determinada no seu caminho e desvenda sozinha, até hoje, os seus segredos. Nos separamos, moramos juntas por uns anos, viajamos para destinos comuns. Foi estudar em outra cidade e seguiu firme no objetivo de se tornar bióloga. Sobrevoou assuntos diversos de piano clássico à anatomia humana. Meus olhos a admiram e meu coração a acompanha.

Juntas a gente se descobriu irmãs de família, de vida, de alma. Acho mesmo que descobri mais vida por você. Todas as palavras se unem em uma só: amor. Parabéns pelo aniversário, meu girassol. Hoje, 16 de maio de 2008. 22 anos.

Fernanda Yuri
Dia do maior presente