sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A transbordar

Por meio do que transborda, surpreender a si mesmo...
Tarde, as palavras já se foram, me resta apenas um pouco de espontaneidade. Sei lá também o que é ser espontâneo. Dificuldades com traduções, registros que não quero. Passageiro como o vento. Aquilo que minha mente desconhece é o que mais me interessa. Lá, neste lugar que não sei, reina o coração e ele se sente livre, desperto, contente. As demais noções deixo aos outros. Processos diferentes que se ligam em estalo de dedos. E nos entre-caminhos a gente brinca como duas folhas no ar. Fotografia de um momento. Memórias e só. Tão bela e eu ainda continuo (ou não) a me perder em seus instantes, realidade criada. Fantasia? O que conduz todos à mesma rotina, aprisionamentos, buscas? Eu sei que sorri, ao canto, quieto por enxergar. Ser na vida coadjuvante é perceber tantos protagonistas. Dar e ganhar espaços. Pode seguir em frente, à vontade. Fico a balançar como as árvores com raízes fincadas neste terreno a orar silenciosa. E nos cumprimentamos “até logo, nos vemos em breve”, e sim, nos veremos. Deixa fluir o teu canto, como diz o poeta.

Alguma lembrança. Textura de pele de bebê. Gosto de bala de côco caseiro. Cheiro doce que todo mundo tem. Cor de carne iluminada por um foco de luz. Som das águas em corredeiras. Quando se une amor e liberdade: compaixão.

Fernanda Yuri
Dia de Profa. Lia Diskin

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mil vezes o amor

O dia sem início e fim. Tudo é Sabino. O que diriam Eduardo, Hugo e Mauro? Que o amor seja maior do que toda angústia, medo, egoísmo, disse o poeta.

Fernanda Yuri
Dia de Encontro Marcado

sábado, 25 de outubro de 2008

Trechos de “Encontro Marcado” de Fernando Sabino

p. 86 - “Tiraram a sorte, coube a Mauro começar.
- Bem: primeiro, o que penso de mim. Antes de mais nada, sou um sujeito inteligente, bastante inteligente. Mas de uma inteligência intuitiva, nada lógica, feita de iluminações, de clarões... Não sei se vocês estão me entendendo.
- Estamos. Continue. Começou bem.
- Inteligência de poeta. Sou um poeta. Agora: sou um desajeitado para viver. Não sei comprar uma camisa. Sou grosseiro, vulgar, suado, me sinto proletário, emigrante, pesado, sujo. Amo as pessoas e as coisas.
- E as mulatas.
- Não avacalhem. Amo as pessoas e as coisas mais do que sou amado. Sou um pobre-diabo. Mas um pobre-diabo lírico, cheio de riqueza interior. Que não troco pela satisfação bem comportada dos ricos em espírito. (...)
- Você, Lord Byron, é inteligente também, mas uma inteligência fina, penetrante, como aço, como uma espada. Ao contrário de mim, você é mais capaz de se fazer amado do que amar. Sua lógica é irresistível, mas impiedosa, irritante. É desses remédios que matam a doença e o doente. Você tem sentimento poético, e muito - no entanto é incapaz de escrever um verso que preste. Por quê? Sei lá. Há qualquer coisa que te contém, que te segura, como uma mão. Sua compreensão do mundo, da vida e das coisas é surpreendente, seu olho clínico é infalível, mas você é um homem refreado, bem comportado, bem educado, flor do asfalto, lírio de salão, um príncipe, nosso príncipe de Gales, como diz o Hugo. Tem uma aura de pureza não conspurgada, mas é ascético demais, aprimorado demais, debilitado por excessos de tratamento. Não se contamina nunca, e isso humilha a todo mundo. É esportivo, é atlético, é saudável e prevenido contra todas as doenças, mas, um dia, não vai resistir a um simples resfriado: há de cair de cama e afinal descobrir que para o vírus da gripe ainda não existe antibiótico.”

p. 145 - “De tudo ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”

p. 167 - “Não posso responsabilizar ninguém pelo destino que me dei.”

p. 180 “- Você nunca mais teve aquelas coisas não? - Perguntava Antonieta, preocupada.
- Não: às vezes sinto uma ameaça, mas já tenho minhas defesas. O segredo é ir para a frente e não para trás: é uma espécie de lodoçal, em que a gente mete o pé. Se parar para tentar arrancar o pé, acaba deixando o outro e se afundando a cada novo esforço, compreende? Atolando-se no lodo até a boca, sabe como é?”

Outras páginas
“Não analisa não.”
“Buscavam um sentido, além da espontaneidade de viver.”
“Temos é de escrever, denunciar através da arte, dar nosso testemunho. Somos escritores, intelectuais, nossa missão é outra.”

O livro veio e foi às pressas programado de acordo com a viagem de Yukari.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Laranja e quente dia treze

O dia sorri brincalhão. Após um período preguiçoso, acordou e veio me chamar para contemplar o espetáculo.

Fernanda Yuri
Dia de vinte e seis

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Dia de Chuva

A chuva além de molhar faz a gente enxergar diferente. Quando chove é bom ficar quieto a reparar nos detalhes. É a gota que bate, se espalha e bate de novo. É a menina que sente o corpo molhado mas não enxerga os pingos que aos poucos a encharcam. São as árvores, plantas e flores que sorriem brincando molhadas. É dia cinza se é chuva emburrada ou casamento de viúva se é refresco em dia quente. Dia de chuva é meio a gente. Tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Tem gente que gosta, outros que se escondem. Os dias têm sido assim, e a aparente timidez tem surtos relampejados.

Fernanda Yuri
Assim.