quarta-feira, 30 de julho de 2008

O brilho

Sua vitalidade e entrega sempre me impressionaram. Na segunda-feira que passou, 28 de julho de 2008, a Escola Municipal de Ensino Fundamental que leva seu nome foi inaugurada. Minha tia foi homenageada pela cidade que ela acolheu e tantos ajudou. Não fui à abertura oficial da unidade escolar, mas fico aqui refletindo sobre o quanto ela fez pelas pessoas. Tanta dedicação, tantos sorrisos. Talvez a perda de algo muito importante na vida de alguém paralise a ação, outras vezes, impulsione a entrega e o desapego. Ação abnegada de frutos multiplicadores que permite o movimento no dharma. Quem assim vive, faz uma falta danada. E todo mundo ao se lembrar, se perde no brilho dela. A vida pode parar pela perda. Quem pode julgar? Tanta gente animada com a nova escola só faz orgulhar porque ela fez muito e continua fazendo. Escola Municipal de Ensino Fundamental Hermínia Araki.

Fernanda Yuri
Dia de multiplicação

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Árvore

Porque hoje a dor voltou e faz lembrar impermanências. Solta, desagarra de tudo o que acredita ter construído e que sente saudades. Permita que o ar flua em suas correntes invisíveis. Não há despedidas, pois os caminhos continuam. Abrigue-se na entrega. Seja um fio na tecelagem da vida. Nada retirado, tudo atribuído. Relembre que é luz e nada mais do que isso. Desfaça-se. Qual é a alegria ou a dor que lhe espera se teus dias terminam com o vigor de um corpo que pede sono? Seja o caminho, conecte-se e ressoe tantos outros. Vai, mesmo sem saber, com seu ritmo em sintonia com a vida. Semente que germina na terra, enraíza e floresce árvore, e mesmo plantada em um canteiro de concreto em meio a cidade fria, oferece ar puro e sombra fresca.

Fernanda Yuri
Dia de pausa

terça-feira, 15 de julho de 2008

Livro do Mês: Cacos para um Vitral (Adélia Prado)

(Empréstimo de Simone Costa, amiga querida)

Trechos
p. 25 - "Maria lhe pedira: quero sair daqui e trabalhar num escritório em Bambuí. Por que Bambuí, filha? Quero saber o que sentem as meninas que não tem as coisas como eu tenho. As pernas de Glória amoleceram. Seria menos duro se a menina dissesse: mamãe, vou me casar amanhã. Não soube dizer do obscuro desejo do seu coração, mas Glória tinha certeza, vou para um escritório em Bambuí, sem que a menina soubesse em sua inocência, significava: pai, não quero sua casa, sua veste, sua comida, seu amor equivocado."

p. 26 - "O social é uma descoberta penosa, a consciência do coletivo, não é, Gabriel? Você não acha? Não pensa assim também, hein, Gabriel? hein? hein? Vê se fala sem brigar comigo, ele respondeu. Fala sem raiva, desfranze essa testa. Seu pessoal é muito aflito, ah, assim tira o gosto de viver."

p. 38 - "Tomava banho 'sabendo', 'sabia' que namorava, assistia-se existindo, exaurida, desejando ser expulsa de si para gozar a existência como coisa, bicho e algumas pessoas parecem gozá-la."

p. 65 - "No caderno de Glória: um romance é feito das sobras. A poesia é o núcleo. Mas é preciso paciência com os retalhos, com os cacos. Pessoas hábeis fazem com eles cestas, enfeites, vitrais, que por sua vez configuram novos núcleos."

p. 67. - " Quando recuperava a alegria, Glória ficava íntima. E descobria: desde toda dua vida, o medo, o sentimento de culpa não a preservavam, antes a endureciam. Mas estar alegra era possuir intimidade, seu corpo não era mais feito de partes, mas uma só coisa harmoniosa, ajustada, digna de amor e amar e fazer os outros felizes."

p. 79 - "Visto desta janela, o ser humano não tem culpa de nada."

Tem sangue que pulsa para além do corpo. Assim é Adélia, para mim.

Fernanda Yuri
Dia de antigo perceber

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Um capricho do sol no jardim do céu

Existe tanta clareza dentro de nós e por que é tão difícil enxergá-la? Buscamos tantas referências, azulejamos chãos de terra quando pisar descalço é livre e permitido. Falamos sobre respeito ao próximo, mas a gente se respeita? Do jeito que é, da maneira como nos redescobrimos? Sobrevoei por alto o Ganges e há tanto ali e no infinito. Tanto há na particularidade de cada ser e no não-ser. Em cada expressividade. Há indianos que se banham em rios sagrados, há índios que caminham pelas trilhas nas florestas tropicais, há gente lutando pela sobrevivência, há populações ribeirinhas. Há tanto desconhecido. Quais são as seguranças que te figuram? O que é que na ilusão lhe prende impulsionando o teu caminho? O que é aparente? O que é teu, interior? Nessa fase de incertezas certas, continuarei deixando que a alma tenha a mesma idade do céu.

Fernanda Yuri
Dia de calma. Tudo está em calma.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

O impulso

O que eu tanto gostei em você que ainda faz que seu calor cheiroso permaneça em mim? Bem sei que gosto da sua desordem, de seu caos, das suas tentativas mesmo já tendo tudo certo. Porque você é tiro certeiro, vida garantida de bons desafios e belezas tamanhas. É construtor de sonhos que ajuda a criar um mundo menos sufocante mais fantasioso, e está criando seu próprio realismo fantástico com seus brinquedos prediletos. Você me traduziu tanto as distrações todas que passei a me interessar por elas. Inesquecível! É isso que você é e será sempre para mim!

Fernanda Yuri
Dia de cosmo estrelado